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Literatura, História, Museologia e Numismática. Sítio de Goulart Gomes, o criador do Poetrix.
Meu Diário
26/09/2010 08h18
O QUE DIZER A UM POETA CEM ANOS DEPOIS
O QUE DIZER A UM POETA CEM ANOS DEPOIS
por Myriam Fraga


(para Arthur Rimbaud)

Olhos de miosótis...
Azul cobalto, a febre
De teus olhos, Anjo
De súbito acendendo
No coração
As lâmpadas da memória,
Num suavíssimo adejar
De asas sobre o peito,

Sobre o leito,
Esquife onde navego
Num oceano de brumas,
Dividido
Entre a divina loucura
Do amor transbordante
E a última revelação
Das toutinegras de maio,

Agora no silêncio,
A paixão é como um filtro.
E tua presença ao meu lado,
Súcubo insolente,
Faz girar o corpo esbelto
Da ampulheta,
Detendo por instantes
As areias do tempo.

Nenhuma canção nos trará
O repouso. A carne das vogais
Apodrece na página,
E ao toque de tuas mãos,
Minha criança linda,
A poesia se desfaz
Em chuva de asteróides.

A noite é um caminho longo
Como um rio. Nesta viagem infernal
O óbulo de um verso
Pagará a passagem. E o barco
Viciado sedutor, filho dileto do abismo,
Ébrio, nos levará a qualquer parte.

Depois...

Depois só o deserto
E no deserto a luz
Dos fogos de Abissínia.

Saciados adormecem
Os tigres
Sobre os lírios.

O toque de tua mão
Como uma carícia breve...
Sabemos que hoje é o fim
Mas assim mesmo fingimos.
Publicado por Goulart Gomes
em 26/09/2010 às 08h18